27 de ago. de 2010

Olhos fundos de sono mal dormido


Despertador
Alexandre Ferreira (AlxSeth)

Dorme ao som do relógio,
Eterno companheiro de cama.
Dorme ao som do próprio peito,
Calmaria em tempos de guerra.

Acorda atrasado, afobado,
O recado ao seu lado é um beijo de adeus.
A luz não entra em seu espaço,
Ainda é noite, e a batalha faz o sangue correr cedo.

Ouve os pássaros cantarem ao longe,
Mas esse som é atropelado pelos carros.
Vida desenvolvida que conquistou a natureza.

Luta o dia inteiro contra um inimigo conhecido.
Olha-se no espelho e lá está ele,
Olhos fundos de sono mal dormido.
Preocupação estampada por um beijo que já se foi...

Sai da batalha sujo com seu próprio sangue.
O banho não lhe conforta ou lhe cura.
A vida corrida faz doer as pernas.
Pega o relógio, e seus olhos se fecham...

Os olhos se abrem atrasados.
Hoje...
Não existe mais recado ou beijo de adeus...
Vai para o trabalho, rotina mais importante
Que o fim de sua vida de casado.

26 de ago. de 2010

Diário Sem Nome Encontrado no Fim do Mundo (Parte 1)

Ato I

Então eu olhei pro chão, meu destino era sete palmos abaixo dele, certifiquei-me de que tudo estava correto, aquela palavra gravada na parede representava tanto e tão pouco... Verifiquei a corda e pulei... Fim.

O Pouco Eu que Resta

Nesse mundo não é necessário ter nome ou idade, isso já não importa nem a mim mesmo. Não fui alguém importante, muito menos sou agora. Aqui não vale posição social ou poder aquisitivo, o mundo de antes tinha como pessoas invejadas aqueles cheios de dinheiro e que conquistaram seus sonhos...

(Um pequeno parênteses)

(Lembro-me da hipocrisia com a qual era brindado todos os dias, com a mentira de que alguém pobre poderia alcançar a riqueza com o estudo e com o trabalho, me lembro dos dias mais antigos, onde as mensagens na TV eram sobre não deixar a esperança morrer. Me recordo também de uma frase que virou clichê de tão falada: "Quem acredita sempre alcança". E o quê alcançamos? Essa é a recompensa por acreditar sempre?

O Pouco Eu que Resta (Retomada)

... Nesse Miserável Mundo Novo os invejados são aqueles que mantêm a família perto, aqueles capazes de se protegerem e de protegerem quem amam. Nesse mundo que fez de todos solitários, os invejados são os amados, os abençoados com a força e a família. Também há aqueles exemplos a serem seguidos, esses são os mais selvagens, assassinos sem igual, aqueles que fazem de tudo para aproveitar a vida que lhes resta. Um mundo que valoriza a família e aqueles guerreiros solitariamente sanguinários. Mundo Contradição, Miserável Mundo Novo...
Já não tenho sentimentos, não me arrependo de te-los enterrados juntos de minha família. Pra mim já não há tempo para amor, não há tempo pra arte.
Deus condenou o mundo arrancando de quase todos os homens o único sentimento que lhes dava forças pra continuar, o amor foi destruído por deus e antes disso tudo, eu só sabia amar, amava tudo o que tinha. Nessa época ainda sorria, sorria como se aqueles minutos de felicidade fossem os últimos e não eram, tenho medo que os últimos minutos nunca cheguem, afinal, o castigo dos homens foi ter o amor substituido pelo sofrimento e este castigo não seria justo se não fosse eterno.
O pouco eu que resta segue vivo por medo de morrer e encontrar um lugar pior, se é possível algo pior que isso, melhor não desafiar Murphy. O pouco eu que resta é pura morte, mas que insiste em andar, que insiste em vida... Que é contraditório e esperançoso.

14 de ago. de 2010

Homem e Mar


Assiste as ondas do mar irem e voltar, de sua sala vê o belo sol terminando de se afogar. O whisky molha-lhe a garganta, mantêm a mente entorpecida, o que não faz sumir a dor de estar sozinho no dia de seu 45º aniversário. Lembra das pessoas que pisou e as inconsequências que cometeu para chegar onde está.
Sente faltado amigo que já não há?
Orgulha-se dos pais que já não são?
Arrepende-se de pai não ser?
Mas, apesar das perguntas, tem certeza do que realmente é...
É solidão sentada no sofá, olhando o mar eternamente ir e voltar, nunca cessando sua luta de chegar a algum lugar. Além de solidão, é também ódio e perdição, inconsequência sem arrependimento, é branco por fora e por dentro, ausência de sentimentos que deveriam colorir sua alma. É o primeiro homem totalmente preenchido pela solidão e a solidão é branca, como a cegueira que quase matou o mundo. Não acredita em vida após a morte, em inferno ou paraiso e é por isso que não se arrepende do que fez. Tem o que dizem ser essencial para a boa vida na sociedade de hoje em dia, muitos o invejam e muitos são invejados por ele, mas ele inveja apenas aqueles que como ele buscam uma resposta na luta eterna do mar.
Uma resposta que as ondas nunca vão mostrar.

Mundo Sozinho


Ao meu lado há um coração partido, largado ao vento, ao frio. Bate fraco, desiludido... Sua poesia já é de poucos versos. Talvez ahaja uma história de luta e vitória em seu passado e, aqui agora, bate fraco por um duro golpe que o destino lhe pregou. Há também a possibilidade de bombear o veneno de alguma doença sem cura e, aqui agora, olha esse pobre mundo podre enquanto deixa de viver.
É um coração e a quem olha? A quem pertence? Que lembranças o quecem? É um coração largado ao frio do esquecimento, batendo fraco, sem intentos. O que o fez ficar assim? Quanto vale? Amou? Sofreu? Ninguém pode saber, somento o coração que sente até mesmo o que já se foi, e o que foi?
Foi ele (um coração) e só.
Não posso fazer nada para salva-lo, talvez até seja um aviso, talvez seja meu coração, talvez apenas esteja aqui pra provar que mesmo diante do sofrimento mais profundo em uma pessoa, não fazemos nada para ajudar ou melhora-la.
O coração agora é mudo e o que impera é mente e mundo.