30 de jun. de 2010

Futuramente Presente


Chego à conclusão de que sonhar é individual, as pessoas não partilham os mesmos sonhos e talvez nem o mesmo objetivo. É difícil contar a história que me fez tirar essa conclusão... Ela ocorreu há muito tempo e até hoje o peso dela coloca meus ombros abaixo. Sou um escritor de longa estrada, faço isso pra ter o que comer. Tentei por vezes orgulhar meus pais com minha arte, mas eles morreram achando que eu não podia escrever assim tristemente, pois não tinha motivo para ser triste. Nunca tive o apoio para leitura ou para escrita, talvez não acreditassem em meu talento, ou apenas não me apoiaram pelo fato da escrita não ter me dado dinheiro naquela época. Mas eu segui, como um cego que busca um apoio, eu segui deitando a pena ao papel, contando histórias que eu julgava pertinentes, contando estórias que julguei bem pensadas. O papel de um escritor é viajar em sua própria mente morrer em seu ponto final e perpetuar-se em suas reticências. Pensei em destruir cada uma de minhas estrofes, guardar nas más lembranças a visão de mundo que eu tinha... Pensei em limitar minhas ilusões, em ser mais um reflexo do espelho que envolve a sociedade, quis largar o diferente e criativo e me apegar a cópia mal feita de uma história mal contada. Quando o monstro em nossa mente é mais forte que o medo em nosso coração, não há luta, a besta sempre vence... Assim continuei dando vazão aos urros intermináveis da minha cabeça... Continuei me apoiando nas minhas próprias pernas e ombros. Não sonho mais em receber apoio dos que amo, aqueles que nos amam são os que mais destroem nossas paredes... Eu me deito e me sujo em meus escritos até que eles me engulam para suas entrelinhas e eu preciso apenas disso.

20 de jun. de 2010

Romeu e Julieta


Cruzei meus olhos com os dela, estava sozinha em uma mesa, parecia triste, seus olhos imploravam companhia. Olhei ao redor e não havia mais mesas vazias, famílias completas e amigos de longa data infestavam o lugar de alegria. Ela lá sentada e sozinha era o preto e branco de uma foto colorida. Me aproximei e pedi cadeira, além claro de um pedaço da mesa, prometi não lhe incomodar, expliquei que tenho mania de comer rapidamente e sem tirar os olhos da comida era preciso apenas que ela ignorasse a minha presença. Ela aceitou, pareceu disposta e ver através de mim, me deu um sorriso, infelizmente o sorriso não apagou sua cara de tristeza... Sentei-me e comecei a comer, ela comentou o fato do lugar estar completamente cheio, eu concordei e lamentei o fato de ter de incomoda-la para almoçar, tinha uma bela voz, aquela moça sem nome, disse ela que eu não estava incomodando, que odiava almoçar sozinha, mas para afastar-se de casa fazia isso as vezes. A conversa continuou, não sabíamos o nome um do outro mas conversamos, como velhos amigos, ela foi se soltando, o sorriso apareceu em sua boca e agora eu era capaz de perceber a beleza daqueles olhos azuis. Perguntou-me o que costumava fazer, menti sobre minha carreira e sobre gostos pessoais, a beleza dela me cativava e a realidade sobre minha pessoa faria ela desistir. As garfadas foram passando e nós conversando, o ar ignorava o som que devia chegar até nós, o restaurante era lotado, mas havia ali apenas eu e ela. O assunto as vezes parava, mas nossos olhos não se desviavam, "pintava o clima" como costuma-se dizer hoje em dia, continuou assim o almoço até termina-lo, comprei refrigerantes para beber e poder continuar o papo, era um bom papo. Ela sabia conversar, era interessante, e parecia sincera, o que pensaria se descobrisse a fantasia em minha atitude? O que ela acharia do verdadeiro eu? Estas são perguntas sem tempo para serem respondidas, e continuando a falar de tempo, o tempo passou e eu já devia ir embora. Disse a ela que tinha um compromisso, ela sorriu gentilmente, disse que era uma pena, que estava sozinha e que não teria nada para fazer em casa. Fui obrigado a dizer-lhe a verdade, eu não tinha compromisso, apenas estava me achando inoportuno na mesa junto dela, convidei-a para irmos a outro lugar, quem sabe passear entre as árvores de um parque, disse a ela que apesar de tudo eu era de confiança. Ela disse de volta que saberia se defender caso eu não fosse... E assim saímos de lá, caminhamos até um parque próximo, olhar árvores é melhor do que caminhar olhando para prédios e carros. O clima melhorou e eu já queria aqueles lábios em minha boca, mulher encantadora... A caminhada foi longa e a conversa não decaiu em qualidade um segundo sequer, nos queríamos e ambos sabíamos disso. Finalmente nos rendemos ao encanto da situação, nos beijamos apaixonados pela atenção dada ao outro, e o beijo foi tenro, os lábios dela tinham, que José de Alencar me perdoe o plágio, eles tinham gosto de mel e duraram quanto nosso fôlego permitia durar, a mulher dos olhos tristes era agora uma menina de sorriso fácil... A paixão alegra o coração dos tolos... Mas Cronos é cruel e decidiu que aquilo não deveria tardar. Sorrimos um ao outro dizendo que tudo tinha sido ótimo, ela me passou seu número de telefone, enquanto eu dei o meu a ela, demos um beijo de despedida como um velho casal de namorados.
Gostaria de saber qual o motivo do tempo passar tão rápido nessas ocasiões em que queríamos que ele se estendesse ao máximo...

Viraram-se as costas, cada um em uma direção, jogaram os papéis com os números ao lixo... atualmente é assim a alegria, as belas histórias de amor, não passam de um dia.

e Dizemos Amor Sem Saber O Que Seja



Fala do Velho do Restelo ao Astronauta
José Saramago


Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.

Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.

Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.

11 de jun. de 2010

Mais um Dia.


Hoje, quando o dia amanheceu refletiu perfeito o vermelho de seus cabelos. Seu cheiro impregnava meus sonhos e aposto que mesmo dormindo eu sorria, a completude batia em meu peito e o frio não me fez sentir com medo, seu corpo quente imediatamente me fazia adormecer. A madrugada, nossa velha companheira de estrada, assistiu o amor compartilhado em nosso sono e o abraço amarrado de nossos corpos. O dia amanheceu timido, sorriu aos poucos, sorrindo por nós dois atados, agarrados um ao outro. Há tantas palavras belas pra te dizer, tantos momento para recordar e tantas maneiras de te amar, dificil ordenar as palavras, deita-las em um texto curto que lhe declare todo o amor que sinto. O primeiro ano se aproxima, um ano que mudou nossas vidas, colocou mais vontade em nossas caras e mais sorrisos em nossas bocas. O tempo é quase inexistente quando estou com você, os dias são segundos, semanas minutos e os meses quando percebi já haviam passado. Um ano, uma história que se começa a construir juntos, é o primeiro ano, o primeiro dos muitos, e me sinto conhecido há tantos. É o dia dos enamorados e são tantos os presentes guardados, tento tira-los aos poucos e deixar-se ler em partes, mas a minha pele já têm um livro sobre você.

A Flor em Cada Um de Nós


O espelho, dono de todas as verdades do mundo, criador do infinito e pintor sem igual. Conheceu a face dos mais nobres, refletiu os pobres e teve em seus olhos todo tipo de sentimento. O espelho, dono do mundo, contraparte da mentira, complemento da verdade.
Narciso encontrou o infinito no espelho e deixou viúvas suas ninfas. O que terá ele encontrado na infinitude? Será o infinito o reflexo do que vemos na realidade? A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Nasceu uma flor no lugar de Narciso, filha criada de seu fim, ferida bela na terra. Os dias choram e quanto mais choram, mais belo é Narciso... Narciso eterno, como o infinito, Narciso infinito, como o espelho.
(Hoje somos todos espelhos, cada um reflete-se infinitamente em frente ao seu duplo, aquele preso no mundo dos espelhos, buscamos a infinitude em nosso olhar, Narciso vive ainda hoje.)

2 de jun. de 2010

Sonhos brancos, Vestidos com Asas



Verdade a Mão
Alexandre Ferreira (AlxSeth)

Cores enegrecem o meu quadro
Cheio de montanhas e buracos
Chuva fina que cai na estrada
Sonhos brancos, vestidos com asas

Mão de sangue, amor de mãe
Serenata cantante, palavra de dor

Gritos obscuros no quarto claro
Poesia suja com palavras belas
Batalhões de guerra armados com rosas
Sonhos negros, vestidos com asas

Mão de mãe, amor de sangue
Serenata de dor, palavra cantante

São apenas quadros
Munidos de fatos que ninguém entende
São apenas fatos
Mentidos em quadros que ninguém viu

São apenas sonhos
De alguém acordado
É apenas a insônia
De alguém que está sonhando

Mãe de sangue, mão de amor
Palavras na serenata, cantadas com dor

É apenas o que é
É apenas o que sou
É o que somos.