20 de set. de 2010

Cadeira de Rodas


Minha vida continua como que em conta-gotas e nada do que eu faço traz de volta aquela vontade de andar pelas ruas e sorrir para estranhos sóis que continuam se pondo. Os dias passam e percebo apenas quando vários passaram e você mal para ao meu lado, sempre com uma desculpa inventada na hora e não revisada, sempre com um eu te amo que não busca olhos e um abraço que se dá de costas. Meu tédio é sentir que não há remédio para o que o mundo fez de mim, e que você se pensa tão esperta julgando que eu não percebi seus enganos.
Já não sou eu quem lembra você das coisas que ficaram por fazer, é você quem lembra de algo que ficou por comprar, de algum passeio sozinho que não conseguiu completar. E das minhas tardes solitárias escorregam pelo chão panos molhados de dúvidas, que você faz questão de tornar quentes. Aonde levam tuas ruas? De que cor brilham as flores que você vê? Seu destino achou caminho longe do meu? Já pensei em levantar e te seguir, unir as forças poucas e encontrar a verdade com os olhos, fotografar na alma o que o peito já espera. O amor é a crueldade com uma bela maquilagem.
Mais um dia fora, mais uma noite na cama, teus encantos vão ficando aos poucos na porta da frente, cada você que entra é mais feio que o passado. E aquele belo e sorridente passado tornou-se presente com lágrimas e tristezas no corpo. Meu corpo já cansado de estar sozinho busca forças onde não pode encontrar, busca movimentos que não saem do lugar e você nunca está, pra ver a evolução que eu posso alcançar, pra sorrir o sorriso que eu posso te dar, você nunca está. E da minha solidão junto histórias que não posso confirmar, decoro suas contradições que não posso apontar, sinto seu lábio cada vez mais seco e seu desejo cada vez mais distante do meu corpo.
Sigo assim, a vida em conta-gotas por culpa de pernas que desaprenderam a andar.

Um comentário:

Jéssica Barone disse...

Eu gostaria de saber escrever como você.