12 de jan. de 2010

Memorial da Vergonha


Eram belos dias aqueles vividos com a brisa do mar e com o céu azul. Mulheres e mais mulheres, festas e amigos que fazem e trazem mais amigos. Eram belas tardes quando o sol se punha e o beijo era certo na garota que eu queria. Eram noites instigantes, abraçado ao corpo nu das mais belas meninas, assim formei minha juventude, vivendo de sons e toques em corpos que mal conhecia. Assim formei o que chamo de boas lembranças, boas fotos, bons tempos. Tempos estes que não vão mais voltar, nunca dei atenção o suficiente a quem merecia, amores jogados no lixo ou pendurados no armário cheios de poeira. Nunca amei, nunca me apaixonei, só queria ter e cada vez que tinha, queria ter mais, eu só fui um devorador de sentimentos, um causador de tormentos e de dores nas pessoas com as quais não queria me preocupar. Tentei aprender o sentido do verbo amar, mas ele nunca mais bateu a minha porta, como as mulheres que tive, ele se levantou enquanto eu dormia, e deixou um beijo de adeus no vidro do banheiro. Eu apaguei cada um daqueles lábios do espelho, apagando junto em minha mente, o gosto e o cheiro daquelas que o beijavam, tantos lábios houveram, tantas cores diferentes, meu espelho deixou de ser límpido e se enegreceu com a decepção de nunca receber o mesmo beijo duas vezes. São amores superficiais estes da juventude, morreríamos como Romeu, morreríamos como o mais galante dos homens, por uma noite apenas. Somos canibais! Tão canibais que um sinônimo de sexo é comer, comemos uns aos outros sem cessar, comemos com as mãos, com a boca, com o olhar, comemos uns aos outros sem pensar. E assim cada dia que passa sem termos outro em nossos braços, lábios, pensamos em morrer, entramos em crise. Valorizamos tanto o canibalismo em nossa sociedade que esquecemos que é sem amor que se morre e não sem sexo. Entendo isso atualmente, jovem não entendia, entendo isso hoje em dia, jovem e amar, eu não precisava, não queria. Disso é feito a minha memória, do sol se guardando tristemente dentro do mar e dando lugar a lua que iluminou os corpos que passaram por minhas mãos, tanta canção, tantas noites em vão, tantas histórias e nomes sem razão, tanto sexo sem paixão.

Aos olhos do que sou hoje, era apenas alguém que não pensava com a cabeça que tem cérebro, um jovem da massa, que pensa em agradar os amigos e não a si mesmo. Atualmente, eu era uma vergonha pra mim mesmo.

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