2 de mar. de 2010

Aos Opostos da Vida



Era um jovem, e como jovem não via o mundo como um lugar pra ser levado a sério. A música alta, as pessoas pulando, isso lhe chamava atenção. Brigava com os pais e xingava os irmãos, vivia seu mundo de festas de emoção, não a vida triste que seus pais levavam em vão. Acreditava que vida seria curta, que poderia morrer daqui um ano, um mês, um dia, agora... Afastava esses pensamentos com a batida rápida que o coração batia para acompanhar a música. Sorria aos desconhecidos, apertava a mão de novos amigos, desprezava a mãe, provocava o pai, era um jovem em descensão.
Teve várias paixões, vários corpos em seu colchão, vários prazeres em suas mãos, mas era um jovem e como principal característica vinha tatuada em seu corpo a insatisfação.
Criou inimigos e velou o corpo morto de vários amigos... As pesquisas dizem que quem mais morre são os jovens, o futuro do mundo é morto e ele em breve seria mais um número nas estatísticas.
E pra que se preocupar? Não se sentia amado por sua família, morria de amores de um só dia e só o que sua mente e corpo pediam, era mais uma música para terminar a noite. E a noite se passava com bebidas no copo, misturas de corpos e os amigos mortos, enterrados e esquecidos.
A morte dos amigos nunca pesou-lhe como cruz as costas, eles morreram como ele desejava morrer, com um sorriso na boca e sem ter tempo pra sofrer. Invejava os amigos mortos, a vida não lhe satisfazia, mas enquanto a vivia preferia manter-se embriagado, mergulhado em música alta... Isso o fazia esquecer, ou apenas não pensar.

O tempo passou e a morte não veio, seus pensamentos mudaram... Largou os conflitos, arranjou um amor. Entregou flores a mãe e deu um abraço amoroso no pai. Os irmãos o visitam no domingo e os amigos são bons e velhos amigos. Quando jovem, sempre perguntou-se o que fazia de um homem, um homem. Hoje a resposta brinda-o todo dia nos olhos de seu filho, na voz fina que lhe chama "pai", no sorriso amoroso de sua mulher servindo o jantar, no emprego bom que lutou para arranjar. Hoje sabe ser um homem, e seguindo seus antigos amigos o jovem que era morreu e foi enterrado, esquecido e amargado.
Ter um filho deu-lhe a obrigação de ter um amor. "Um homem só começa a amar quando se sente obrigado a fazer isso", era essa frase que seus pensamentos diziam ao entardecer, sentado a frente de sua casa, vendo o sol se pôr, indagando porque tão belo era o céu antes de morrer e dar lugar a mais uma tenebrosa noite. Seu filho cresceu e fe-lo sofrer como seu pai sofreu, percebeu que os jovens são todos iguais e que um coração só cresce quando quer. Seu principal problema era pensar demais, tentava encontrar a resposta em tudo o que fazia, cuidava seu jardim durante o dia, o silêncio era terapia e sua mente viajava. Via o céu entardecer e durante a noite abraçava o corpo de sua mulher. "Depois que aprende a amar, o homem ama até ser capaz de chorar"

Quando seu filho foi embora, sentiu um vazio se apoderar do seu peito. A mulher solitária era agora lembrada apenas quando o desejo vinha lhe bater na cabeça. Tentava mudar isso que agora era rotina. Via-a solitária, amargurada ao assistir a felicidade em novelas, mas não se lembrava onde guardou sua responsabilidade, em qual das gavetas seus papel de homem fora esquecido. O ninho agora era vazio e seu peito se esvaziou junto dos anos. Os mesmos anos que trouxeram de repente o homem de volta.
Esse dia era cheio de chuva, todos o abraçavam e entregavam seus lamentos. Olhou para o rosto dela que parecia tão tranqüilo, mas a razão lhe jogava a verdade por dentro dos olhos e sabia que o coração dela era infeliz. A culpa de deixa-la morrer infeliz deu lugar a velha raiva juvenil, brigou com os filhos e com seu jardim. Matou as flores fez o sol não mais vir belo como antes.
Um dia antes do dia que sempre esperou uma frase formou-se em sua mente e depois tomou seu coração. "Um homem nunca aprende a amar nada além de si mesmo". Ao constatar essa, que era sua verdade absoluta, ele chorou feito uma criança e não parou de derramar suas lágrimas até o seu dia final chegar. E chegou tranqüilo, sem bater na porta, sem fazer alarde.
Morreu ao perceber que é tudo tão errado. "O homem só é capaz de se sentir satisfeito ao fazer alguém sofrer" Depois disso, sua voz perdeu a força e seu coração se contraiu. A dor de todos que fez sofrer, doeu em seu corpo. Ele morreu.

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