13 de mar. de 2010

Teatro de Rua


Hoje eu resolvi escrever algo feliz, e percebi que escrever sobre felicidade é mais dificil do que escrever sobre tristeza. Tentei dar um sentido diferente as palavras que sempre escrevo, elas soam sempre com o mesmo tom, o som que não muda...
Vesti uma roupa leve de cor branca, treinei um sorriso na frente do espelho, fiz piadas tão péssimas que nem eu ri... Relembrei os filmes de comédia que vi e tentei mais uma vez convencer o meu reflexo de que eu tinha talento para o stand-up. O reflexo riu, mas não das piadas que contei e sim do papel de idiota que eu estava fazendo. Desisti, resolvi dar uma volta pelas ruas...
Olhei o rosto das pessoas e percebi que muitas delas pareciam preocupadas ou tristes e as poucas que pareciam alegres, não contagiavam o resto. Pensei que era uma cidade triste, estranhamente isso me alegrou, sendo a cidade triste eu não conseguiria me sentir um peixe fora d'água, pela primeira vez, senti que eu era parte dessa sociedade... A sociedade que multiplicou os pierrôs e tem os arlequins escondidos pelos cantos.
O sorriso brotou em minha boca de forma natural, cumprimentei as pessoas, dei dinheiro a um malabarista, ajudei uma senhora a atravessar a rua, eu me sentia bem, me sentia parte da sociedade, essa sociedade triste me abraçava e eu lhe dava um beijo molhado e sorridente no rosto...
Andei pelas ruas de uma forma que nunca havia andado, aproveitei o asfalto, aproveitei as construções, não tossi com a fumaça cuspida pelos carros, eu consegui ter um bom passeio.
Abri a porta de casa, e toda a escuridão nela trancada bateu em mim com força, fui para o espelho e me xinguei de hipócrita, de mentiroso e de idiota. O reflexo me olhou abismado, deu uma risada sem graça e me disse tranquilamente.
- Todos os outros que como você sorriam, todos eles estão agora chorando em suas casas. Não há quem tenha motivos pra sorrir sinceramente pelas ruas... Não se confunda, você é o que é, e todos são o que você é... Tristeza.
E as cortinas do meu dia se fecharam. Ser ator é fácil, todos são.

Um comentário:

Melia Azedarach L. disse...

O problema é pensar demais, a ignorância cairia muito bem agora, ser completamente tapada e com nada me importar, me compadecer, me desesperar, eu adoro fazer graça eu sei, o problema é que a vida real é diferente.O meu "eu" real não dorme enquanto pensa.